segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Hora de Sábado

Trazido de uma sexta-feira acompanhada pela luz ofuscante do computador no quarto, escuro, onde o ar é mais pesado que as proprias palpebras, olhando de cinco em cinco minutos para as horas, perguntando-me se estaria na hora de ir fumar o cigarro que tanto espero. Por cada passa dada no cigarro segue-me a confusa consciência de todas as outras. De que valeu uma noite compoturizada se poderia estar noutro lugar, onde a consciência não se revela-se importante, ou nem sequer se revela-se. Estar num carro monótono, abafado por mentalidades positivamente críticas.
Quase no ultimo bafo do cigarro consciente, consigo mesmo entrar no pensamento que estava a ter. Estou agora no carro.
Estranho sentimento este, que me interroga. Como é que neste carro apertado me sinto mais confortável que num quarto imenso onde só eu me encontro? Talvez porque a ideia de conforto nao se redime só a um estado fisico, mas tambem a uma questão afectiva. Orgulhoso de quem está perto, aproximo-me ainda mais e descubro que já fomos bem mais pequenos. Não considero ninguém crescido mas admito que já cresci. Há um tempo eram brincadeiras, criançadas e risadas estúpidas. Agora são brincadeiras, criançadas e risadas que quase tocam a maturidade. Não a atingem mas dão para crescer. As opiniões dispersam-se e com toda a vontade que tenho de as ouvir, a preocupante hora de ir para casa faz com que desligue de algumas. Nesse mesmo momento reparo que o camião da recolha de lixo ainda não passou. Debatendo isto dentro do embaciado carro chegamos ao concenso de que a hora de sábado tem mais uma. Ou seja vinte e cinco reunidas num dia.
Coisa rara. Infelizmente. Certamente haverá mais. Apenas teremos de encarar os dias de vinte e quatro, como de vinte e cinco. E quem de vinte e cinco tira? Perde uma hora, perde um dia como o de hoje.
2+4 = seis horas da manhã, apago o cigarro e espero pela hora de Sábado.


In Carro, Francisco Martinho, Inês Atienza, Miguel Rosa, Ricardo Almeida, Rodolfo Feitor, Ruben Rodrigues, Tiago Secca, Tomás Batarda, 2010.

(Alfabeticamente organizado e redigido na hora 25 de Sábado)